Curiosidade ou Transfobia?
Homens cisgêneros (cis – pessoa que se identifica com o gênero atribuído ao nascimento) reconhecem e usufruem da sua individualidade e intimidade, raramente se deparam com perguntas constrangedoras ou comentários sexistas em relação ao seu corpo, expressão ou dados sociais.
Isto porque, o espaço que ocupam na sociedade é legitimado por uma estrutura patriarcal hegemônica que assegura e reforça a cis masculinidade como norma social. No entanto, pessoas trans, travestis e não-binárias (pessoas que não se identificam com o gênero atribuído ao nascimento) são questionadas diariamente – perguntas sobre o corpo, a expressão ou dados sociais.
A cis masculinidade, sente-se autorizada a desafiar a dignidade trans (trans, travesti e não-binária). Pessoas trans são vistas e tratadas como corpos de fácil acesso, trata-se de uma ferramenta de opressão cis patriarcal que desumaniza vidas trans.
A suposta “curiosidade” é seletiva, raramente é para compreender a luta, os movimentos sociais, os avanços e desafios da comunidade trans. A “curiosidade” cis é um dos muitos tentáculos da transfobia. Perguntas invasivas e desrespeitosas são feitas por pessoas cis, sem o receio de uma possível punição, isso, pois, foi cristalizada a cultura de violências contra pessoas trans – transfobia estrutural.
E se a energia e tempo utilizado por pessoas cis fosse utilizado para aprender sobre pessoas trans? Com todo o aparato tecnológico disponível, por qual motivo pessoas cis insistem em considerar pessoas trans como dicionários de diversidade?
Respondendo à pergunta do texto, a “curiosidade” cis, não se trata de uma necessidade em aprender, mas sim, de uma violência mascarada de dúvida – é transfobia.
Nenhuma pessoa trans é obrigada a responder questões sobre si ou o grupo, para isso, há pessoas que voluntariamente disponibilizam tempo e energia para ensinar nas redes sociais ou em sites. Se genuinamente a pessoa cis deseja aprender, é preciso que haja iniciativa e comprometimento, até porque, a transfobia é um problema da cisgêneridade, e não das pessoas trans.
Antes de perguntar, vale refletir:
- Você faria essa mesma pergunta a uma pessoa cis?
- Você gostaria de receber essa perguntar?
- Qual a relevância sobre a intimidade de uma pessoa trans para você?
- A pergunta que pretende fazer, você consegue obter a resposta em uma ferramenta de busca?
Por fim, o respeito e a empatia devem prevalecer em qualquer relação social, seja ela próxima ou não, afinal de contas, transfobia é crime e não “curiosidade” – Lei 7.716/89.