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Diversidade Seletiva e Não-Diversidade na Contabilidade

Diversidade Seletiva e Não-Diversidade na Contabilidade

A Diversidade Seletiva é a maquiagem que o patriarcado cisgênero branco heterossexual utiliza para se autopromover. A pluralidade humana é incontestável, basta olharmos para os ambientes que não detemos controle de acesso, como as ruas e avenidas. O controle de acesso são as barreiras invisíveis que impedem que a diversidade se faça presente nos mesmos espaços que indivíduos privilegiados ocupam, exemplo: universidades e organizações.

As organizações possuem em si, estruturas de expulsão que se manifestam desde o processo de seleção até a manutenção da permanência de corpos dissidentes. Quando uma vaga de emprego para determinado cargo é anunciada, os requisitos se comportam como “filtros” sociais, é perceptível a partir deste mecanismo de exclusão, compreender quais corpos podem ou não ter direito a uma oportunidade e a uma carreira.

Exemplo 1: uma vaga de estágio em uma empresa de contabilidade que exige inglês intermediário ou avançado, conhecimento em Pacote Office, e curso a partir de determinado período da graduação.

Ao analisar o exemplo exposto é possível determinar qual raça, classe e gênero a empresa procura para ocupar o cargo. Reflita comigo: Quantas pessoas negras (pretas e pardas), você tem conhecimento que, falam, escrevem e compreendem o inglês intermediário ou avançado entre os 16 e 22 anos de idade? Quantas jovens possuem acesso ilimitado a passagens de transporte público para entrevistas de emprego? Quantas travestis, mulheres e homens trans e trans não-bináries têm acesso ao mercado de trabalho formal?

     Essas perguntas destacam três pontos principais desta discussão:

  1. O discurso de competência é uma ferramenta de ódio à indivíduos que não detêm acesso a oportunidades e acolhimento.
  2. Quem poder performar uma masculinidade cisgênero sem ser confundido(a) com os corpos “não desejáveis”?
  3. As organizações e instituições escolhem iguais ou quase iguais, mais nunca quem é diferente.

Exemplo 2: um processo seletivo para pós-graduação em contabilidade que exige proficiência em línguas estrangerias, testes de conhecimento geral que custam algumas centenas de reais e entrevista presencial.

Assim como no exemplo anterior, os critérios são filtros que determinam quais corpos podem e quais não podem acessar determinados ambientes. As cátedras universitárias compostas por corpos brancos e cisgêneros são resultantes de processos classicistas, racistas e transfóbicos que cultuam o corpo do patriarca padrão.

O discurso da meritocracia tem como objetivo normalizar as desigualdades sociais pelo cruel e conhecido “eu mereci”, e quem fica para trás “não teve competência”. O patriarcado meritocrático exclui acessos à corpos dissidentes e depois culpabiliza os mesmos corpos por não conseguirem acessar. Embora contraditório, este padrão reproduz desigualdades e atua na manutenção de corpos privilegiados em ambientes de poder há séculos em nossa sociedade.

Diante deste cenário surgem a Não-Diversidade (Ausência de Corpos Diversos), e a Diversidade Seletiva (Corpos Diversos que performam de acordo com as expectativas da cisheteronormatividade) na Contabilidade, que somente se tornam possível por dois agentes: 1) Estrutura patriarcal branca cisgênero flexível; e 2) Corpo semelhante disposto a performar e negociar conforme a estrutura patriarcal branca cisgênero flexível exige. A união desses dois agentes concebe o Pacto da Cisheteronormatividade Contábil.

Exemplo: um homem cisgênero, branco, gay, de classe média alta, contador performando uma masculinidade heterossexual conforme as expectativas da cisheteronormatividade para garantir o seu emprego. A empresa por sua vez, ciente da orientação sexual do colaborador, o faz garoto propagando da diversidade do negócio. “Olha só como somos plurais e diversos!”.

Neste exemplo, o sujeito, embora possua uma orientação sexual dissidente, possui os privilégios da raça, classe e gênero, e a partir desses privilégios irá negociar o seu lugar de semelhante. A empresa, mesmo estruturalmente preconceituosa cede um lugar ao semelhante em troca da autopromoção.

Não-Diversidade e Diversidade Seletiva se tratam da negação da Diversidade e Inclusão. É ter o conhecimento da existência da diversidade, mas mesmo assim, escolher quais corpos podem ou não acessar os espaços sociais a partir das performances e estereótipos.

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